top of page

Gratidão: O combustível Para a Santidade

Ao longo de nossos últimos editoriais vimos como o pecado está presente em nossas vidas e como sua influência nos faz distorcer padrões divinos definidos nas Sagradas Escrituras. Há duas semanas vimos como o desejo pelo descanso pode ser deturpado e dar lugar à preguiça, e na semana passada, como a ordem para o trabalho pode ter um objetivo egoísta e desalinhado com os propósitos de Deus. E embora pareçam dois pecados muito distantes e talvez opostos, carregam em si o mesmo motivador: Insatisfação. Pessoas entregues a uma vida de preguiça murmuram e invejam a vida de pessoas que prosperam. Por outro lado, pessoas que prosperam através do fruto de seu trabalho não estão contentes com o seu padrão de vida atual e trabalham cada vez mais para alcançar algo que lhes satisfaça.


Pensando nisso, neste editorial meditaremos sobre a gratidão que Deus espera de nós, os perigos de um coração ingrato e como a vida de gratidão nos impulsiona a uma vida de santidade.


A ingratidão nos cega, nos afastando de Deus


O principal perigo da ingratidão é que ela nos afasta de Deus. Essa verdade é vista logo nos primeiros capítulos da Bíblia, em Gênesis 3. Em algum momento Adão e Eva deixaram de olhar para as bênçãos que Deus lhes dera e ficaram insatisfeitos com sua condição atual, por este motivo, foram tentados pela serpente. Como consequência do pecado, Adão e Eva foram afastados da presença de Deus.


Outro exemplo que temos sobre a ingratidão, é um pouco mais adiante, em Êxodo. Quando lemos a história da libertação do povo de Israel vemos uma sequência de murmurações. A primeira, logo quando o povo sai do Egito e rapidamente é cercado pelo exército do Faraó: “Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendo-nos sair do Egito?” (Êxodo 14.11). E logo em seguida, quando Deus acabara de libertá-los abrindo o mar vermelho, novamente lemos: “E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber?” (Êxodo 15.24). E se avançarmos alguns versículos, novamente veremos o povo reclamando com relação ao alimento (Êxodo 16.3). Não importava o quanto Deus os livrava, Israel sempre encontrava algo para se queixar, e mesmo havendo momentos de gratidão e alegria (Êxodo 15), sua peregrinação foi marcada por inúmeras murmurações, pois a ingratidão os cegava e os impedia de olhar para as muitas bênçãos que o Senhor estava derramando sobre eles.


O que é a gratidão?


Como diz o puritano Jeremiah Burroughs: “Contentamento Cristão (gratidão) é aquele estado doce, interior, sereno e gracioso de espírito, que livremente se submete e se delicia na disposição sábia e paternal de Deus em toda e qualquer situação.” Claro, direto e objetivo. Em outras palavras, é alegrar-se no Senhor em toda e qualquer circunstância. A verdadeira gratidão é totalmente independente de fatores externos, é promovida pelo Espírito Santo, e é plenamente satisfeita em Cristo!


Gratidão nos aponta para Cristo e não para as circunstâncias


Quando o assunto é gratidão e vida focada em Cristo, é impossível não lembrarmos da vida do apóstolo Paulo. Ele entendeu o quanto Cristo tinha feito por ele, de maneira que nada mais importava a não ser uma vida totalmente entregue à Sua obra.


“Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais,

renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes,

mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza,

porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado;

de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência,

tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;

tudo posso naquele que me fortalece.”

(Filipenses 4.10–13)


É constrangedor ver como Paulo entendia o sacrifício de Cristo. Isso o movia a uma gratidão sem precedentes. Era o combustível que continuava o impulsionando à proclamação do Evangelho. Seu exemplo ganha ainda mais força por conhecermos sua trajetória. Paulo, certamente era uma pessoa que tinha plenos argumentos para levar uma vida de ingratidão e murmuração:


“São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.)

Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões;

em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.

Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um;

fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio,

três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas,

muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores,

em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade,

em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos;

em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes;

em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez.

]Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente,

a preocupação com todas as igrejas.”

(2 Coríntios 11.23–28)


Entretanto, Paulo podia suportar toda e qualquer situação, pois seus olhos não estavam mais fixos nas circunstâncias e sim na pessoa de Jesus. Sua convicção estava em que todas as coisas aconteciam sob a permissão de Deus (Mateus 10.29, 30) para que ele se tornasse mais parecido com Cristo (2 Coríntios 3.18).


É testemunho visível


Essa confiança que Paulo sentia e a gratidão que ele demonstrava, testemunhavam do amor de Cristo e alcançavam vidas para o Reino. Paulo, mesmo quando submetido a circunstâncias adversas, glorificava a Deus com alegria. Em sua prisão, quando escrevia aos Filipenses, pregou para toda a guarda pretoriana, de modo que as pessoas não conseguiam entender como alguém podia ser feliz mesmo estando preso. Paulo, movido pelo Espírito Santo, transformou uma circunstância adversa em um ato de evangelismo, pois ele entendia qual era o papel daquela aflição dentro de um plano maior.


Portanto, um coração descontente e murmurante, além de demonstrar falta de confiança nas promessas de Deus, é um coração orgulhoso que não consegue ser sal e luz para o mundo, pois é incapaz de transmitir uma vida de alegria e gratidão na pessoa de Cristo.


Gratidão aponta para a vida eterna


Somente um coração grato é capaz de transbordar atitudes que apontam para Cristo. Alguém que verdadeiramente entendeu o sacrifício de Cristo vive para proclamar o Reino através de uma vida grata e de santidade. Em contrapartida, um coração ingrato foca nas circunstâncias, seguindo errante e disperso com as coisas que o mundo pode oferecer. Como consequência, está sempre insatisfeito e cresce em descontentamento, que gera a murmuração, a cobiça, ganância e outros pecados.


Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça,

quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido,

dá à luz ao pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.”

(Tiago 1.14, 15)


Desta forma, a gratidão nos blinda de um coração errante e que caminha a passos largos para a morte eterna. Por isso, como cristãos, somos chamados a viver uma vida piedosa e em constante exercício de gratidão.


“Deem graças em todas as circunstâncias,

pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.”

(1 Tessalonicenses 5.18)


Como crescer em gratidão? Como aprender o contentamento?


  • Crie o hábito de agradecer a Deus por coisas simples. Escreva em um caderno, todos os dias, pelo menos um motivo diferente pelo qual você pode ser grato a Deus;

  • Estude e medite mais sobre quem Cristo é e o que Ele fez por nós;

  • Procure boas literaturas sobre o assunto. Indico “O segredo do contentamento”, de Willian B. Barkley da editora Nutra Publicações;

  • Gratidão é desenvolvida de maneira sobrenatural. Por isso, buscar uma vida de intimidade com Deus é fundamental.


Para refletir


  • Em quais situações você se sente tentado a reagir com ingratidão?

  • Você consegue ser grato e vislumbrar todas as bênçãos de Deus em sua vida?

  • Você é tentado a acreditar que murmurações são resultado de circunstâncias, ou você entende que murmuração é uma atitude de coração?

  • Por que um espírito descontente é ofensivo a Deus?


Editorial de Rafael Ceron





Comments


bottom of page