Definir “amor” é um dos desafios da atualidade. Como já é estabelecido que o “amor” é uma coisa boa, cada indivíduo deseja defini-lo baseado naquilo que ele entende que o deixa satisfeito ou feliz. Ao invés de entender o que é o amor para, assim, vivê-lo, o ser humano quer continuar vivendo direcionado por seus desejos e quer, a partir disso, forçar uma definição que jamais se encaixará com a verdade. Querem dizer que toda forma de amor é válida, mas falham em perceber que nem toda definição de amor é.
O amor se origina em Deus (1 João 4.10a) e, dessa forma, recorrer ao Criador de todas as coisas é essencial para entendê-lo. De fato, Deus define e exemplifica por diversas vezes o amor na Bíblia. O amor é uma decisão de vontade e é evidenciado por um ato, sendo que o principal exemplo disso é Deus dar seu Filho para nos salvar (1 João 4.10b). Deus também evidencia ao longo de sua Palavra que esse amor é originado unilateralmente e não depende da outra parte (Jeremias 31.3). Isso fica evidente ao longo da história da revelação, na qual observamos o amor de Deus se manifestando ao Seu povo mesmo quando este não lhe correspondia. Vale ressaltar, também, que o amor de Deus não é medido pela resposta do povo (objeto do amor) às Suas ações, e sim no caráter de Deus (referência). Ou seja, mesmo que o povo reclamasse das demonstrações de amor de Deus, o que estava ocorrendo não era Deus deixando de ser amoroso e, sim, o povo agindo erroneamente. Toda essa base nos leva à bela conclusão de 1 Coríntios 13.4–8, em que podemos ver diversas características do amor: paciente, bondoso, não inveja, não se vangloria, não se orgulha, não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, se alegra com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, nunca perece.
Assim, vemos que o amor não parte dos sentimentos/emoções humanas e sim do caráter de Deus. Devido a isso, a verdadeira capacidade de amar só é possível para quem tem o espírito de Deus que o capacita a viver esse amor. O amor de Deus nos leva a amar da mesma forma que Ele nos amou. Com isso, gostaria de analisar alguns pontos para nos ajudar a dar o próximo passo tanto no entendimento do amor de Deus quanto no desenvolvimento das nossas práticas de amor ao próximo.
1. O amor de Deus é definido por Deus
Você provavelmente já questionou, de forma prática, a definição bíblica de amor (mesmo que verbalmente expresse o contrário). Por exemplo, um pai que acha que dar tudo ao filho é amoroso, um jovem que decide iniciar um relacionamento indevido guiado por um sentimento amoroso (paixão), ou membros de uma igreja que enfrentam a decisão de disciplina eclesiástica por não considerá-la amorosa. Isso normalmente acontece quando seguir o amor bíblico é contrário ao que os nossos sentimentos e desejos querem e, nesse embate, decidimos que é melhor fazer concessões no conceito de “amor” para acomodar a nossa vontade. O desafio aqui é, portanto, avaliar a nossa vida e verificar se, de fato, estamos nos deixando enveredar por esse caminho. Se sim, devemos urgentemente pedir a graça de Deus para abandoná-lo e dar um passo a viver o amor bíblico.
2. O amor de Deus é evidenciado em atos unilaterais
Vimos que o principal ato de amor de Deus foi enviar Seu filho Jesus para morrer por Sua igreja (1 João 4.10). Vemos nesse Seu ato de sacrifício o princípio de que o amor não é um sentimento, e sim uma disposição de vontade. Deus escolheu Seu povo por iniciativa própria, e escolheu amá-lo por meio de atos significativos. Da mesma forma, nós devemos escolher amar ao próximo com ações. Na prática, isso quer dizer que o que deve guiar os nossos relacionamentos é a nossa decisão de amar alguém, e, a partir disso, agimos para demonstrar esse amor. Não esperamos que nossas emoções ditem o que devemos fazer, e sim doutrinamos nossas emoções com as ações que tomamos diariamente. Isso certamente tem uma implicação direta no relacionamento conjugal, mas também deve impactar a forma como nos relacionamos com outras pessoas. O desafio aqui é, portanto, avaliar a nossa vida e verificar se estamos cultivando nossos relacionamentos com ações amorosas, ou se estamos deixando nossas emoções em relação aos outros ditarem o que fazemos.
3. O amor de Deus é característico
Por fim, também vimos que Paulo nos expõe em 1 Coríntios 13 várias características práticas do amor. Neste caso, o próprio texto já nos evidencia aspectos palpáveis de como o amor de Deus é, e como, portanto, ele deve se manifestar no nosso meio. Assim, se passamos pelo passo de reconhecer que nossas emoções e vontades são corrompidas, e que o amor vem de uma decisão da nossa parte, chegamos ao ponto de avaliar, agora, quais atitudes devem fazer parte da nossa rotina. O desafio aqui é, portanto, analisar a lista de 1 Coríntios 13 (apresentada na introdução) e verificar quais passos o Espírito Santo nos pedirá para dar para nos aproximarmos ainda mais do padrão de amor bíblico.
Para muitas pessoas, uma conclusão natural desse texto é que ninguém consegue amar verdadeiramente outra pessoa. De fato, olhar para esse nível de exigência é desesperador, pois pode nos levar a crer que jamais poderemos amar e ser amados de forma verdadeira. Novamente, voltamos ao princípio de que tudo isso só é possível porque Ele nos amou primeiro e isso é o que nos permite amar verdadeiramente (1 João 4.19). Jesus Cristo não é apenas um exemplo de amor, mas é o nosso Redentor e Libertador que nos tira de uma vida orientada pelos nossos desejos para vivermos uma vida orientada para agradá-lO. Assim, em Cristo temos esperança de que podemos dar um passo à frente para o amor verdadeiro.
Editorial de Tássio Cortês Cavalcante
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