Saber quem somos é fundamental para darmos passos na direção certa. Pensando nisso, começaremos hoje uma série de editoriais que nos ajudarão a pensar sobre “quem somos em Cristo” — nossa Identidade em Cristo. Para começar, falaremos sobre o fato de termos sido escolhidos por Deus — ou eleitos por Deus.
O que é a Eleição?
A doutrina da eleição é uma das mais controversas entre cristãos evangélicos, portanto devemos definir esta doutrina com muito cuidado, sendo fiéis ao que a Palavra de Deus diz. A definição de Wayne Grudem é muito boa: “A eleição é um ato de Deus antes da criação no qual ele escolhe algumas pessoas para serem salvas, não por causa de qualquer mérito antevisto nelas, mas apenas por causa de seu soberano beneplácito”.¹
Quais são as bases teológicas sobre a eleição?
Existe uma quantidade surpreendente de textos bíblicos que ensinam esta doutrina, especialmente no Novo Testamento. A maioria das referências envolve a palavra Grega eklego e suas formas relacionadas. Efésios 1.4 é uma dessas passagens: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”.²
Outra base teológica da doutrina da eleição é que ela segue logicamente a doutrina da depravação total, também ensinada nas Escrituras (Romanos 1.18–3.20). Se o ser humano é inteiramente pecaminoso e não possuí a capacidade de obedecer a Deus, então ele precisa de salvação. Portanto, Deus escolheu aqueles a quem Ele daria salvação. Em outras palavras, a eleição nada mais é que do que a doutrina da onipotência de Deus aplicada para salvação (veja também o nosso editorial sobre a Onipotência/Soberania de Deus).
Como a eleição impacta o nosso dia a dia?
Se a doutrina da eleição é bíblica, conforme argumentamos no ponto anterior, ela também deve impactar como vivemos (2 Timóteo 3.16, 17). A doutrina correta (ortodoxia) deve vir antes e impactar o viver correto (ortopraxia).
· Humildade
Ao contrário do que muitos imaginam, a doutrina da eleição não deve gerar crentes orgulhosos, mas sim humildes, pois o fundamento da nossa eleição não é algo que possuímos em nós mesmos, mas tão somente a misericórdia e graça de Deus (Efésios 2.8, 9). Em Colossenses 3.12, o apóstolo Paulo escreve: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade”. Portanto, a doutrina da eleição deve gerar crentes humildes. “Nós somos os eleitos de Deus e não a elite de Deus.”³
· Santidade
Já observamos que Efésios 1.4 dá suporte à doutrina da eleição. Porém, este texto ensina mais do que isso: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”. Vemos neste texto que a santidade é um dos propósitos principais da eleição. Esta santidade não significa perfeição moral, mas sim que estejamos crescendo dia a dia e dando frutos espirituais (João 15.16).
· Louvor
Vemos em Efésios 1.6 que Deus nos escolheu “para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. Se tem algo que deve encher os pulmões do eleito de Deus é o louvor ao Deus soberano e gracioso que nos salvou gratuitamente em Jesus Cristo, o Amado.
Como a eleição nos ajuda a dar o próximo passo?
A eleição é o primeiro estágio da salvação realizada por Deus: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8.30). Esta sequência de ações de Deus é conhecida como a corrente inquebrável de cinco elos. Porque Deus agiu na história e na nossa história ao nos eleger, chamar, justificar e futuramente glorificar, nós podemos dar o próximo passo rumo à maturidade.
Esta citação de James Dennison Jr. descreve para nós parte da preciosidade da doutrina da eleição: “A consideração piedosa da predestinação e nossa eleição em Cristo é cheia de doce conforto, suave e indescritível para pessoas piedosas, que sentem em si mesmas a obra do Espírito de Cristo, mortificando as obras da carne e seus membros terrenos, e elevando suas mentes às coisas do alto e celestiais, tanto porque grandemente confirma e estabelece sua fé na salvação eterna a ser desfrutada através de Cristo, como porque acende fervorosamente seu amor para com Deus”.³
Editorial de Leonardo Cordeiro
¹ Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática: Uma Introdução à Doutrina Bíblica (Leicester, Inglaterra; Grand Rapids, MI: Inter-Varsity Press; Zondervan Pub. House, 2004).
² Outras passagens que usam a mesma palavra grega, ou que também dão suporte à doutrina da eleição, são: Marcos 13.20; 1 Coríntios 1.27, 28; Tiago 2.5; Mateus 24.22, 24, 31; Lucas 18.7; Romanos 8.33; 9.11; 11.5; Apocalipse 17.14; 1 Tessalonicenses 1.4; 2 Pedro 1.10.
³ Curt Daniel, A História e Teologia do Calvinismo (Glasgow, Inglaterra: Bell and Bain Ltd, 2019).
Comments