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Identidade em Cristo: Glorificados por Deus

Se você está lendo esse editorial na mesma época em que ele foi escrito, você provavelmente está preparando o seu coração para as celebrações de Natal. E se você já tem feito isso por alguns anos, você já deve ter notado que a maioria dos devocionais do advento passa mais ou menos pelos mesmos temas: começamos com uma lembrança do plano de Deus na criação do homem. Passamos pela queda do homem e pela promessa dAquele que reverteria a maldição do pecado, paramos rapidamente em Isaías e suas referências claras ao Messias, e finalmente chegamos nos primeiros capítulos dos Evangelhos de Mateus e Lucas, onde a história do nascimento de Jesus é descrita em detalhes. Normalmente, o grande objetivo desse roteiro é deixar claro que a nossa redenção era algo que estava nos planos de Deus desde a eternidade passada, e que o custo para isso envolvia o próprio Deus tomar a forma de homem, viver uma vida perfeita, morrer injustamente na cruz e ressuscitar ao terceiro dia. Mesmo não estando entre as passagens clássicas de Natal, Romanos 8.28-30 nos dá um ótimo resumo desse plano:


“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam,

dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho,

a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.

E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou;

aos que justificou, também glorificou.”

(Romanos 8.28-30)


Aqui, Paulo deixa claro todos os passos do processo de redenção, descrevendo-a como uma grande corrente de temas interligados (também conhecida como a corrente dourada da redenção). Nessa série de editoriais, exploramos todos os elementos dessa passagem, exceto o último: glorificação. Hoje vamos focar em entender o que esse último elo significa, e quais as suas implicações práticas para as nossas vidas como cristãos.


O que é Glorificação?


Glorificação está intimamente ligada com a ressurreição de Cristo e Sua segunda vinda. Ela pode ser definida como o momento em que Cristo retorna e ressuscita os corpos de todos os crentes que morreram (em todas as épocas) e os reúne com suas almas. Ao mesmo tempo, os corpos dos crentes vivos são transformados, de modo que todos terão o mesmo tipo de corpo ressurreto, um corpo como o de Cristo. É exatamente por isso que Romanos 8.29 fala que Cristo seria o primogênito dentre muitos irmãos. Mas que tipo de corpo é esse? Temos alguns vislumbres dele nos capítulos finais dos Evangelhos (veja João 20 e 21, por exemplo), porém 1 Coríntios 15.42-44 nos dá algumas das informações mais específicas. Na analogia de Paulo descrita nesse texto, nosso corpo atual é como uma semente, que morre para dar origem a uma nova planta. Este corpo é retratado como algo perecível, semeado em desonra e fraqueza; exatamente como uma semente que dificilmente lembra as características de uma árvore madura. Em contraste, nosso corpo glorificado será imperecível, glorioso e poderoso. Isso significa que esse corpo será eternamente forte, belo e saudável, não suscetível aos efeitos do pecado e compatível com Novos Céus e Nova Terra, que será eternamente sem mácula. Será um corpo que terá toda a beleza, glória e força projetada por Deus na criação; somente nesse ponto da história (tirando os eventos ao redor da ressurreição de Cristo) seremos capazes de ver o homem exatamente como Deus o planejou.


Mas talvez a característica mais importante desse texto é aquela mencionada no versículo 44, onde nosso corpo terreno é definido como natural, enquanto o glorificado é retratado como espiritual. Note que Paulo não se refere a um corpo sem matéria física (lembre-se de que o os discípulos tocaram no corpo de Cristo), mas o termo espiritual se refere a algo consistente com o caráter e a atividade do Espírito Santo. Isso significa que, quando glorificados, seremos completamente sujeitos à vontade do Espírito Santo, sendo em tudo guiados por Ele. Consequentemente, nossas inclinações naturais pecaminosas serão destruídas de uma vez por todas, pondo um fim na luta contra o pecado.


O que é viver na expectativa da Glorificação?


A definição que usamos de glorificação pode parecer “teológica” demais, mas ela nos traz elementos muito práticos. Por exemplo, ela ressalta a nossa experiência com nosso corpo atual que se desgasta, sujeito às intempéries do mundo caído. Ela reconhece que não vivemos num mundo perfeito agora, e que mesmo sendo cristãos estamos sujeitos a doença, fraqueza e desonra. Podemos dizer que hoje, no nosso processo de santificação, experimentamos da orientação do Espírito Santo, mas muitas vezes ignoramos a Sua voz e caímos em pecados habituais. A promessa de glorificação assume que somos seres imperfeitos vivendo em um mundo imperfeito. Mas esse não é seu objetivo final; a glorificação aponta para a solução desse problema, para o ponto final da história da redenção. Ela mostra que, apesar de todo sofrimento que possamos encontrar nessa terra, teremos descanso no futuro. Ao mesmo tempo, ainda que tenhamos vários momentos de felicidade aqui, nenhum deles pode ser comparado com aquilo que iremos experimentar na nossa glorificação futura, principalmente porque ela marca o início da nossa vida eterna com Deus. Em suma, qualquer que seja a nossa experiência nessa vida, a glorificação final deve ser o nosso maior anseio, pois ela é o cumprimento final das promessas de Deus e do Seu plano.


Dessa maneira, viver nessa expectativa muda significativamente a maneira em que passamos por dificuldades e tentações, assim como a maneira em que aproveitamos bons momentos. No meio da mais forte tentação, podemos ter a certeza de que Deus irá cumprir o Seu propósito em nossas vidas, e que Ele nos dá força para perseverar (Filipenses 1.6). Nos momentos mais felizes, podemos lembrar dessa promessa e ser alertados contra a idolatria, guiando nosso coração para a fonte de toda boa dádiva (Tiago 1.17), que por Sua graça nos levará para um lugar de alegria eterna. Quando cedemos a tentações e o Espírito nos traz arrependimento, a glorificação nos aponta para quando não haverá mais luta ou tristeza pelo pecado, apenas perfeita alegria diante de Deus. Que promessa preciosa!


Como ela nos ajuda a dar o próximo passo?


Todos concordam que crescer em santificação e amor é algo essencial para darmos o próximo passo na nossa vida cristã. Mas crescer na expectativa da glorificação final também nos ajuda a dar passos concretos em direção a Cristo; afinal o objetivo dessa promessa é nos apontar para um tempo em que teremos um corpo como o dEle, enquanto passamos a eternidade ao Seu lado. A lembrança de que isso é uma dádiva de Deus como parte do Seu plano de redenção nos incentiva à gratidão e ao serviço, antecipando aquilo que virá na eternidade futura. E de maneira última, a glorificação é, em si, o último passo da nossa caminhada cristã; como o peregrino de John Bunyan chegando aos portões celestiais após sua jornada terrena, seremos revestidos de glória e gozaremos da eternidade louvando ao nosso Rei!


Editorial de Petrônio Nogueira


Nota: Editorial baseado no capítulo 25 de “Bible Doctrine: Essential teachings of the Christian faith”, de Wayne Grudem (Intervarsity Press).

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