Faz parte da nossa identidade em Cristo o fato de sermos santos aos olhos de Deus. Contudo, ainda somos pecadores e precisamos nos tornar cada dia mais parecidos com Cristo. A santificação é uma realidade, ao mesmo tempo em que é um processo. Ou seja, ela começa quando somos convertidos por Deus, e termina quando formos chamados por Ele para a eternidade.
Isso acontece porque, desde o momento em que fomos libertos do poder do pecado, não somos mais escravos dele. Pelo contrário, passamos a buscar a vontade de Deus (Romanos 6.18). Em outras palavras, a santificação é "a transformação contínua do caráter moral e espiritual para que a vida do crente, de fato, passe a espelhar a posição que ele já tem aos olhos de Deus."¹
Muitas são as passagens das Escrituras que falam sobre a santificação e seus diferentes e importantes aspectos. Nesse editorial, olharemos para alguns:
Deus é quem santifica
No início da carta aos Coríntios, Paulo refere-se aos membros da igreja como "santificados em Cristo Jesus” e “chamados para serem santos'' (1 Coríntios 1.2). Ou seja, santificação é uma ação do próprio Deus em nós.
“Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados,
foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus.”
(1 Coríntios 6.11)
Vemos também que a santificação provoca mudanças (''assim foram alguns de vocês''). Vivíamos para a satisfação da carne, e agora vivemos para agradar a Deus. Também é Ele que produz em nós o que Lhe é agradável:
“O Deus da paz, que pelo sangue da aliança eterna trouxe de volta dentre os mortos
a nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, os aperfeiçoe em todo o bem
para fazerem a vontade dele, e opere em nós o que lhe é agradável,
mediante Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.”
(Hebreus 13.20, 21 – ênfase do autor)
Devemos ter uma resposta ativa em relação a Deus
O progresso na santificação é um presente da graça, mas também é verdade que Deus requer de nós passos em direção a ela. Graças a ação do Espírito Santo, somos capacitados e chamados para obediência (1 Pedro 1.2) e a mortificar os desejos da carne:
“Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão;
mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão.”
(Romanos 8.13)
Uma vez que temos o Espírito, Deus espera de nós atos contínuos de fé e obediência, que podem ser observados por meio da meditação na Palavra de Deus (Salmo 1.2); oração (Filipenses 4.6); adoração (Efésios 5.18–20); testemunho e discipulado (Mateus 28.19, 20); atos de misericórdia e compaixão (1 Pedro 3.8); comunhão e mútuo encorajamento (Hebreus 10.24, 25); autodisciplina e autocontrole (Tito 1.8).²
Santificação é progressiva
“E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor,
segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior,
a qual vem do Senhor, que é o Espírito.”
(2 Coríntios 3.18)
O quadro é de um processo contínuo que dura a vida toda. Isso não significa que na vida cristã não existam momentos de fraquezas e de quedas. Se formos pensar em termos gráficos, do início ao fim da vida veríamos várias oscilações. Mas contrastando o ponto inicial e o final, o resultado deve ser crescimento.
É um processo pessoal
Isso significa que apesar da santificação ter denominadores comuns a todos os crentes (como confronto com a Palavra; arrependimento; renovação da mente) o processo é personalizado. Deus, com muita graça e amor, nos dá exatamente as provações que precisamos para moldar o nosso caráter. E isso é um presente de Deus para Seus filhos.
''Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor;
mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados.''
(Hebreus 12.10, 11)
Como crescer em santidade?
Em nossa busca pela maturidade por meio da santificação, podemos ser tentados a alguns pecados. Duas das manifestações mais comuns são a preguiça e o orgulho.
1. Cuidado com a preguiça
Nossa santificação sempre será fruto da graça de Deus. Mas também é verdade que temos um papel ativo nela. Deus nos ensina disciplinas espirituais, para que possamos nos fortalecer para a batalha contra o pecado. Algumas dicas práticas são:
Ter um diário de oração, com hora e tema marcados para orar (ore mais pelos outros que por você mesmo!);
Escrever versículos bíblicos que tratam das áreas em que você quer trabalhar na sua vida e deixá-los visíveis para ser lembrado da palavra de Deus;
Cumprir um plano de leitura de toda a Bíblia em um ano;
Investir tempo pensando em como servir às pessoas ao seu redor.
2. Cuidado com o orgulho
O orgulho é um pecado que pode ter inúmeras manifestações, e por vezes é especialmente sorrateiro. É bom e desejável que tenhamos anseio por sermos maduros e crescermos espiritualmente. É um alívio e uma alegria muito grande quando vencemos algum pecado em nossas vidas. Mas devemos lembrar que a velocidade com que alcançamos a maturidade em determinada área está nas mãos do Senhor. Ele usa inclusive as consequências humilhantes dos nossos pecados e as nossas limitações para nos tratar e trazer glória ao nome dEle. Cuidado com o pensamento mentiroso e sorrateiro ''sou bom demais para ainda estar pecando nisso''. Nós não somos bons. Pecadores pecam. Pelo contrário, despoje-se desta mentira, renove a sua mente com a palavra de Deus e revista-se com a verdade (Efésios 4.22-24).
Portanto, que o foco de nosso pensamento não esteja naquilo que nos falta, mas no Senhor que supre e o faz perfeitamente. Nesta caminhada lembremos do amor leal de Deus e da maravilhosa verdade que Ele nos guiará até o dia de nossa morte (Salmo 48.14).
Editorial de Matheus Carneiro
¹ Erickson , Millard J., Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015. ² Wayne A. Grudem. Entenda a fé cristã: um guia prático e acessível com 20 questões que todo cristão precisa conhecer. São Paulo: Vida Nova, 2010.
Comments