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Jim Elliot: vida e obra

“O Evangelho que pregamos não é primariamente um Evangelho de sentimentos; é um Evangelho de fatos. É um Evangelho baseado no fato da ressurreição, da morte e ressurreição de Jesus Cristo, e nas implicações desses fatos.”[1] Essa frase foi proferida no sermão intitulado “Ressurreição” de Phillip James (Jim) Elliot em 1951, e retrata muito bem a motivação por trás da sua trajetória de vida. Jim se formou na Universidade de Wheaton em 1949, a mesma universidade em que Billy Graham havia se formado seis anos antes, e dedicou boa parte da sua vida à atividade missionária. Naquele mesmo ano (1949), Jim escreveu uma das suas frases mais famosas, e que ainda hoje tem inspirado missionários pelo mundo inteiro: “Não é tolo aquele que abre mão daquilo que não pode reter, para ganhar o que não pode perder.”


Em seu diário, a frase remetia à passagem de Lucas 16.9, ressaltando o contraste entre as riquezas do mundo, que são perecíveis, e a habitação celestial, que dura para sempre. Diante de tais verdades inspiradas pelas Escrituras, Jim e seu amigo Pete Fleming decidiram partir para o Equador, com o objetivo de levar o Evangelho de Jesus Cristo a uma das mais isoladas aldeias indígenas do interior do país, os Huaorani. Após alguns anos de preparação, a equipe missionária formada por Jim e Pete, além de Nate Saint, Ed McCully e Roger Youderian, pousaram em Palm Beach, um banco de areia do rio Curaray, em 3 de janeiro de 1956. Três dias depois, três membros da tribo Huaorani foram ao seu encontro, onde missionários e índios tiveram um primeiro contato amigável. Porém, contrariando as expectativas iniciais, um grupo de Huaoranis organizou uma emboscada contra os cinco missionários, que foram brutalmente mortos à lança. Seus corpos foram jogados no rio Curaray, e apenas quatro foram encontrados dias depois.


E se a história acabasse aqui?

Os acontecimentos ocorridos em janeiro de 1956 causaram comoção no mundo inteiro. Muitos retrataram o episódio como um fim trágico da vida de cinco jovens, uma fatalidade que não deveria ter ocorrido se houvesse justiça no mundo. Mas tenho certeza que esses missionários não compartilhavam do mesmo ponto de vista. Jim Elliot termina o sermão que mencionei no início deste texto citando Romanos 8.29 e João 14.19, argumentando claramente que, por sua união com Cristo, os cristãos irão ressuscitar, assim como Cristo ressuscitou. Sua esperança estava “no corpo em que [Cristo] irá aperfeiçoar, no qual ele se fará conhecido [...].”[1] Sua voz se uniu à de Paulo, que considerou tudo como refugo “para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte” (Filipenses 3.10). E por servir no poder da ressurreição de Cristo, a morte não era algo a ser temido, e o sofrimento era esperado (João 15.18-20). Ao contrário, como colocado por um autor cristão, “o refúgio de Deus para o seu povo não é em relação à morte e ao sofrimento, mas em relação à derrota final.”[2] E foi exatamente essa esperança que os carregou até o fim.


A fidelidade de Deus em cumprir os Seus propósitos

Mas a história não termina com esses cinco jovens. Poucos anos depois da morte deles, Rachel Saint, irmã de Nate Saint e Elisabeth Elliot, viúva de Jim Elliot, voltaram ao Equador. O objetivo delas era continuar o trabalho daqueles cinco missionários e levar a mensagem do Evangelho para aquele povo. Essas mulheres entendiam claramente a atitude sacrificial daqueles missionários como algo que vinha do amor de Cristo a eles, então, ao invés de nutrir uma atitude amarga ou vingativa em relação àquela tribo, elas assumiram a mesma atitude de Jim e Nate, entendendo que a missão que elas deveriam cumprir era maior que as suas próprias vidas — e elas estavam dispostas a morrer nessa missão. Elas viveram por um tempo no meio daquela tribo, testemunhando do amor de Cristo e, mais uma vez contrariando as expectativas, laços foram criados entre as missionárias e os índios. De maneira quase inacreditável, um dos índios que mataram Nate foi um dos primeiros alcançados pelo Evangelho naquela tribo. A família de Saint (incluindo seu filho) continuou envolvida por muito tempo na missão com os Huaorani, com esforços que duram até os dias de hoje.


A história de Jim Elliot, seus irmãos missionários, sua esposa e a família Saint é tida como inspiração para missionários de todo mundo. No entanto, como podemos aplicar isso na vida da nossa própria igreja? Claramente, o amor missionário desses personagens deve nos incentivar a pensar em como podemos demonstrar amor de maneira prática àqueles que não conhecem o Evangelho. Para alguns, isso significará a ida ao campo missionário. Mas essa história também nos mostra algo além de esforços pessoais de missionários. Ela mostra a grandiosa soberania de Deus em fazer com que o martírio dos Seus servos levasse à salvação de almas. Deus é, em última instância, Aquele que possibilitará o cumprimento da missão que Ele nos deu, e Seus planos não podem ser frustrados.


E quanto àqueles que pensam que não foram chamados a “missões”, é bom relembrar que todos nós, como Corpo de Cristo, temos a mesma missão (detalhada claramente em Mateus 28.18-20), e como tal devemos agir conjuntamente em obediência a esse mandamento. Isso envolve demonstrar amor ao perdido de maneira sacrificial também em outros contextos, talvez mais próximos do que imaginamos. Nisso, o exemplo de Elisabeth e Rachel nos remete ao próprio padrão de Cristo, relembrando que pessoas perdoadas aprendem a perdoar. Isso é aplicar o poder da ressurreição no nosso dia a dia, o que nos levará a fazer sacrifícios. Mesmo assim, segundo Jim, não há tolice alguma em fazer tais sacrifícios, quando sabemos que o que nos espera é algo muito mais grandioso.


Editorial de Petrônio Nogueira


[1] Resurrection Sermon: Disponível em


[2] Slain in the Shadow of the Almighty. Disponível em https://www.desiringgod.org/articles/slain-in-the-shadow-of-the-almighty;


- They Were No Fools: The Martyrdom of Jim Elliot and Four Other Missionaries. Disponível em https://www.thegospelcoalition.org/blogs/justin-taylor/they-were-no-fools-60-years-ago-


- Jim and Elisabeth Elliot: Devotion to the Unreached: https://bethanygu.edu/blog/stories/jim-and-elisabeth-elliot/

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