Estamos no meio de uma série de editoriais de reflexões que nos têm apontado os vários ladrões de vitalidade espiritual. Certamente, nosso contexto pandêmico evidencia uma clara visão de que eles estão mais presentes em nossos corações do que podemos imaginar. Em meio ao isolamento social, não é incomum nos entristecermos ao visualizarmos postagens de pessoas exibindo suas majestosas casas com piscinas e áreas gourmet, ou nos amargurarmos pelo simples fato de não podermos parar de trabalhar em meio à quarentena enquanto muitos o fazem. A verdade é que quase nunca estamos satisfeitos com nossa condição atual, e consequentemente, buscamos o que os outros possuem. Sentimentos como a inveja e o ciúme rodeiam nossos corações, e são fortes agentes contra nosso progresso espiritual. Estes, em específico, são citados por Paulo em sua carta aos Gálatas como obras da carne (Gálatas 5.19-21). Obras que por vezes são ignoradas e rotuladas apenas como “pecadinhos” inofensivos para a vitalidade cristã. Contudo, nos esquecemos que um pouco mais adiante Paulo as contrasta com o fruto do Espírito, deixando claro que aquele que foi alcançado pela graça maravilhosa já não deve mais andar segundo as obras da carne, mas sim, segundo o fruto do Espírito (Gálatas 5.22, 23). Mas, por que estes sentimentos são condenados pelas Escrituras se por muitas vezes os consideramos inofensivos?
A inveja tenta destronar Deus
Primeiramente, precisamos entender que não temos o direito de escolher qualquer tipo de circunstância, sofrimento ou benefício enviado por Deus, seja para quem for. Davi, em meio ao seu orgulho e cobiça, entendeu que era mais justo que ele tivesse Bate-Seba por mulher do que o próprio Urias, o legítimo marido. Por isso ele mandou matá-lo. Caim, ao desobedecer a ordem de Deus foi reprovado, e ao ver a aprovação de seu irmão, inflamou-se em ira e inveja o seu coração ao ponto de lhe transtornar o semblante (Gênesis 4.5). Impulsionado pelo pecado, Caim acreditou ser mais justo do que Deus e decidiu que não era justo que seu irmão Abel vivesse. Ao invejarmos alguém, nos mostramos insatisfeitos com a vontade de Deus ao ponto de desconsiderarmos Sua autoridade. Deixamos o posto de réus redimidos e passamos a desempenhar um papel de juiz, algo que Satanás tentou fazer. Deus é o dono, criador e mantenedor de todas as coisas. Todas as coisas foram feitas por Ele e para Ele (Colossenses 1.16). A nós, cabe apenas a submissão à Sua bondosa e perfeita vontade.
A inveja é dominadora
É importante entendermos também, que a inveja é um pecado duplamente eficaz e poderoso. Podemos pecar tanto por senti-la, quanto por incitá-la. A inveja é tão perigosa e astuta que ela pode atingir ambos os envolvidos ao mesmo tempo. Enquanto uma pessoa incita a inveja, a outra luta contra ela. Em ambos os casos, nos colocamos em um patamar superior a outra pessoa. Se sentimos inveja, nos consideramos superiores e mais merecedores de algo; no outro extremo, quando incitamos a inveja, mostramos que somos superiores e que a pessoa não merece ter aquilo que possuímos. Em Gálatas 5.26 Paulo nos alerta a não provocarmos uns aos outros e a não invejarmos uns aos outros, a fim de cultivarmos um ambiente de amor.
A inveja tira nossa confiança em Deus
É impossível confiarmos nas promessas do Senhor enquanto estamos afundados em um coração insatisfeito e aprisionados na vida dos outros. Asafe expôs a sua dificuldade em não invejar a prosperidade dos ímpios em contraste com os problemas que lhe assolavam a vida. Ele invejou a prosperidade dos ímpios enquanto esteve cego em seu pecado:
"Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei;
Porquanto eu acumulava inveja dos arrogantes, ao ver a prosperidade desses ímpios."
(Salmo 73.2, 3)
Entretanto, logo após reconhecer e confessar seu pecado, se lembrou das promessas de Deus:
"A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti! Embora minha carne e meu coração definhem, Deus é a rocha do meu coração e minha herança para sempre; Eis que perecerão os que de ti se afastam,
tu exterminas a todos os que te rejeitam."
(Salmo 73.25-27)
As coisas boas dessa vida não se podem comparar com a promessa eterna que Deus tem reservado para aqueles que O amam. Se isso não for uma verdade em nossas vidas, jamais conseguiremos nos libertar da escravidão da inveja, da cobiça e do ciúme.
A medida em que nossa falta de fé aumenta, nossa confiança no Senhor diminui.
A inveja e o ciume não nos garantem nada, Cristo sim!
Do que nos adianta querer aquilo que não temos (inveja), ou confiar e amar demais aquilo que já temos (ciúmes), se nenhuma dessas coisas podem nos garantir a vida eterna? Todas as coisas que estão debaixo do sol não podem nos garantir nada a partir do momento em que deixarmos este mundo. Por outro lado, Cristo nos mostra o que realmente pode nos agregar algo:
"Deleita-te no SENHOR, e Ele satisfará os desejos do teu coração.
Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais Ele fará."
(Salmo 37.4, 5)
"Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça,
e todas as outras coisas vos serão acrescentadas."
(Mateus 6.33)
Cristo já nos garantiu tudo. Temos a vida eterna à medida em que entregamos nossas vidas a Ele. Em Mateus 25, Cristo nos mostra mais uma vez que Ele é o provedor e o mantenedor de todas as coisas, nos apresentando a ilustração dos lírios, que não trabalham e mesmo assim se vestem como Salomão nunca se vestiu em toda a sua riqueza.
Confie no Senhor e o mais Ele fará.
O antidoto contra a inveja e o ciúme é, então... a fé e a confiança na pessoa de Jesus Cristo!
Se por um lado a inveja e o ciúme destroem nossa vitalidade e acabam com nosso relacionamento com Deus, a fé em Cristo é a unica saída para que não desfrutemos o gosto amargo da perda de nossa vitalidade espiritual. É Ele, e somente Ele quem pode garantir nossa vitalidade. Somente nosso relacionamento com Deus irá nos privar de todos os ladrões de vitalidade espiritual.
Editorial de Rafael Ceron
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