No editorial da semana passada, O que não é arrependimento, vimos os maiores — e mais comuns — equívocos relacionados ao arrependimento. Porém, mais importante do que saber o que não é arrependimento, é entender como a Bíblia descreve o arrependimento genuíno.
O verdadeiro arrependimento vem do Senhor
Em Romanos 2.4, o apóstolo Paulo escreve: “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” Não há arrependimento sem que haja, primeiro, a ação bondosa do Espírito Santo em nossos corações. É o Espírito que nos convence do pecado (João 16.8) e que nos capacita a viver uma vida de santidade (1 Coríntios 6.11). Antes de qualquer coisa, portanto, o arrependimento genuíno é obra do Senhor na vida do cristão.
O verdadeiro arrependimento começa no coração
Embora a nossa sociedade foque muito em atitudes e comportamentos, a Palavra de Deus sempre mantém o foco no nosso coração. Isso não significa que Deus não se importa com a forma como vivemos, mas que Ele sabe que uma mudança genuína e permanente só acontece quando o coração é transformado. O processo descrito pelo apóstolo Paulo em Efésios 4 enfatiza isso. Antes de dar uma série de exemplos sobre mudanças de atitude que Deus espera de nós (Efésios 4.25–32), ele descreve o processo de transformação na mente e no coração de alguém que creu em Jesus Cristo (Efésios 4.21–24).
O verdadeiro arrependimento resulta em mudança (obediência)
O teólogo R. C. Sproul resume o conceito de arrependimento no Antigo Testamento utilizando a palavra “conversão”, explicando que “isto [i.e., conversão] está ligado ao conceito bíblico de metanoia, a mudança de mente que não é meramente um assentimento intelectual de um conceito, mas a mudança de toda a vida” (ênfase pessoal). [1]
A partir do momento em que alguém coloca a sua fé em Cristo, tudo muda — temos um novo coração, um novo Mestre, uma nova perspectiva, um novo futuro... tudo é novo.
Embora cada uma dessas novidades seja espetacular, quero enfatizar aqui o fato de termos um novo Mestre. Se temos um novo Mestre, não somos mais nós mesmos que determinamos como vivemos — devemos nos submeter em obediência a Ele. Além disso, se de fato amamos esse novo Mestre, obedecê-lo não seria um peso, mas um privilégio (1 João 5.3). O apóstolo João traz grande ênfase a essa relação entre amor e obediência. Em seus livros, o autor usa praticamente como sinônimo as ideias de “amar a Deus” e “obedecer aos seus mandamentos” (João 14.15, 21, 23; 1 João 2.3, 5; 5.2, 3). Alguém que diz ter fé em Jesus Cristo, alguém que ama a Deus acima de todas as coisas, também será alguém obediente aos mandamentos do seu Mestre.
O verdadeiro arrependimento não é necessariamente um arrependimento perfeito
Seria maravilhoso se nós nunca mais voltássemos a cometer os erros que um dia cometemos. Seria fantástico se o arrependimento genuíno resultasse em mudança automática. Seria espetacular se um arrependimento genuíno produzisse obediência perfeita. Porém, todos nós sabemos que não acontece dessa forma. É possível se arrepender genuinamente e, após um tempo, voltar a cometer o mesmo pecado. Nós somos falhos, e sempre estaremos lutando contra as nossas fraquezas. Isso não quer dizer que devemos nos acomodar e desistir de lutar; significa, simplesmente, que a luta continuará existindo mesmo após nos arrependermos. Portanto, essa realidade deve servir tanto como um consolo quanto como um encorajamento. Consolo porque Deus não espera perfeição de nós. E encorajamento porque ele nos capacita a progredir, mesmo que imperfeitamente, numa caminhada de conformação à imagem de Jesus Cristo (Romanos 8.29, 30).
O verdadeiro arrependimento leva à salvação
Finalmente, o verdadeiro arrependimento leva à salvação. Em 2 Coríntios 7.10, Paulo diz que “a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação.” A salvação não está ligada à mudança de atitudes, mas ao fato de que alguém só pode se arrepender genuinamente se essa pessoa já teve um encontro com Cristo. Quando Deus age no coração de alguém, convencendo essa pessoa do pecado, ela será tomada de tristeza por entender que seu pecado vai contra Deus — que é completamente Bom, Justo e Santo. Isso a levará ao arrependimento, buscando a Cristo como única solução para os seus pecados, e recebendo assim a salvação e a vida eterna.
Na próxima semana, exploraremos os efeitos iniciais, duradouros e eternos do arrependimento genuíno na vida do cristão. Ainda que o processo seja doloroso e árduo, as recompensas são infinitamente maiores do que aquilo que sacrificamos.
Editorial de Gustavo Henrique Santos
[1] Sproul, R. C., O que é Arrependimento?, Questões Cruciais 17 (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2018), 21.
Comments