A santificação é um processo iniciado e efetuado por Deus, e que faz parte da vida de todo cristão. O apóstolo Paulo trata disso de maneira prática na sua carta aos Efésios, mais especificamente no capítulo 4, onde ele desenvolve o processo de santificação da seguinte forma:
“Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e
a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus
em justiça e em santidade provenientes da verdade.”
(Efésios 4.22–24)
O processo pode ser resumido em três atitudes: (1) um retirar dos hábitos do velho homem (que era marcado por uma busca por desejos enganosos), (2) termos a mente renovada (ou preenchidas com novos padrões) e (3) adotarmos novas atitudes inspiradas pelo próprio caráter de Deus revelado nas Escrituras.
De maneira interessante, a primeira área tratada por Paulo nos versículos seguintes é a comunicação. Mas por que esse tema é ressaltado em primeiro lugar aqui? Ora, comunicação inclui uma boa parte do modo que interagimos com as pessoas ao nosso redor. No contexto da igreja, a comunicação irá moldar como iremos nos edificar mutuamente (como ressaltado no início do capítulo). No contexto externo, a comunicação bíblica está diretamente atrelada à mensagem que pregamos. Somos chamados a proclamar a glória e o amor de Deus às pessoas ao nosso redor, especialmente pela pregação do Evangelho. Mas um discurso com um conteúdo desafinado com a sua forma se torna inválido. Se vamos comunicar a verdade de Deus, devemos fazê-lo refletindo o próprio caráter de Deus.
Nos versículos seguintes (Efésios 4.25–32), Paulo nos dá diretrizes, definindo um modelo bíblico de comunicação a ser seguido por todos os crentes. Ele pode ser resumido em 4 grandes pontos: (i) seja honesto; (ii) mantenha-se atualizado; (iii) ataque o problema, não a pessoa; (iv) aja, não reaja. Em linhas gerais, o texto nos mostra que falar a verdade em amor é mais que uma questão de comunicação, é uma questão de coração.
Seja honesto e se mantenha atualizado
Um leitor desavisado poderia pensar que o versículo 25 é apenas um reforço ao mandamento de Êxodo 20.16 “não darás falso testemunho contra o teu próximo”. Mas note que Paulo vai além: ele nos instrui a falar a verdade de forma ativa e contínua, não nos omitindo quando surgir a necessidade de confrontação. Paulo ressalta que o maior motivo para isso é que “somos membros de um mesmo corpo”, um corpo que “edifica-se a si mesmo em amor” (Efésios 4.16). Assim, a nossa honestidade no falar deve ser revestida pelo amor que nos une como igreja, e tem o objetivo de nos fazer crescer como corpo de Cristo. A honestidade amorosa inclui cuidados com a linguagem, evitando sempre bajulações ou exageros, mas nos esforçando para sermos sempre claros em toda mensagem que comunicarmos, prevendo o impacto que nossas palavras terão.
O segundo princípio, exposto nos versículos 26 a 28, vai de encontro a uma das características do velho homem e a algo que é valorizado na nossa cultura: a vingança. Nesse ponto, Deus nos leva para o caminho contrário: Ele nos chama a não pecar quando algo nos levar à ira, mostrando que nem mesmo o pecado dos outros deve nos levar a pecar. Mais do que isso, somos chamados a nem mesmo esperar o dia seguinte para lidar com algo que nos levou à ira, mas resolver a questão o mais rápido possível. Só podemos fazer isso corretamente quando tratamos nosso coração antes de tudo, identificando as razões para nossas reações, e expondo qualquer pecado residual. Um coração que abriga a ira é um terreno fértil também para amargura e desunião, e o Diabo usa exatamente essas coisas para trazer desavenças no meio do corpo. Paulo nos mostra a importância do tratar do coração com o exemplo de um ladrão. O maior problema de alguém que furta não é o crime em si, mas um coração cheio de inveja e ganância. A regeneração do ladrão só é dada quando ele deixa de roubar e passa a trabalhar para repartir com os necessitados. Nisso, a ganância é substituída por generosidade — o velho homem é substituído pelo novo.
Ataque o problema (não a pessoa) e aja (não reaja)
Essa dupla de contrastes pode ser vista nos versículos 29 a 32. Ao invés de proferirmos palavras torpes (usada aqui no sentido de algo podre, que não é próprio para uso), devemos proferir palavras que sejam úteis para edificação. Já vimos que o maior problema de uma reação externa pecaminosa é um coração que abriga pecado. Dessa forma, só tratamos o pecado corretamente quando tratamos o coração, e atacar a pessoa só irá dificultar esse processo. Ao contrário, devemos focar em soluções que irão edificá-la, fazê-la mais parecida com Cristo (por exemplo, iniciando um discipulado).
Finalmente, Paulo termina com um alerta relativo às nossas reações: diante do pecado cometido contra nós (ou situações que expõem nosso próprio pecado), reações como ira, indignação e amargura são comuns, mas só levam a desavenças e problemas no meio do corpo que irão dificultar o exercício do seu propósito de mostrar a glória de Deus para um mundo caído. Somos chamados a agir de maneira santa em relação a essas situações, lembrando de como Deus reagiu aos nossos pecados: com graça, misericórdia e perdão. Colossenses 3.13 deixa muito claro que o Evangelho é o motor por trás dessa mudança de atitude – só somos capazes de perdoar porque Deus nos perdoou em Cristo, independentemente do tamanho da nossa ofensa. Somos chamados a replicar exatamente essa atitude.
Ao lembrarmos desses princípios de comunicação bíblica, devemos ter em mente sempre que este é um trabalho que Deus está fazendo em nós, e que Ele irá completar a Sua obra (Filipenses 1.6). Devemos nos agarrar a essa promessa quando formos desafiados por situações em que tais princípios deverão ser aplicados, entendendo sempre a grande figura da obra de Deus por meio da igreja: Ele usa pecadores (como eu e você) para fazer outros pecadores (como eu e você) mais parecidos com Cristo, para honra e glória do Seu nome!
Editorial de Petrônio Nogueira
Nota: A versão utilizada para as citações dos versículos foi a Nova Versão Internacional. O texto foi baseado em materiais de conferências de aconselhamento bíblico (mais especificamente, na conferência Biblical Soul Care).
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