No editorial anterior, começamos a conversa sobre o que a Bíblia diz sobre o lamento. Vimos que devemos sempre nos voltar a Deus em oração, e que há espaço para perguntas sinceras e abertas ao nosso Deus. Hoje, concluiremos nossa reflexão sobre as quatro características do lamento bíblico, trazendo também alguns pontos para reflexão.
Peça com ousadia
E parte dessa conversa com Deus envolve pedir ousadamente que Ele aja em nosso favor — não de acordo com a nossa vontade, mas de acordo com o próprio caráter dEle. Isso é poderoso! Pedir que Deus aja de acordo com o Seu caráter nos faz lembrar do caráter dEle, e é exatamente isso que precisamos quando estamos passando por dificuldades.
“Levanta-te, SENHOR! Salva-me, Deus meu,
pois desferes um golpe no queixo de todos os meus inimigos
e quebras os dentes dos ímpios.”
(Salmo 3.7)
Nossos problemas não são resolvidos quando entendemos mais de nós mesmos, ou quando nossas vontades são satisfeitas. Nossos problemas são colocados de lado quando enchemos nossos olhos e nosso coração com a magnitude de quem Deus é! Pode ser que as circunstâncias nunca mudem, pode ser que o sofrimento permaneça... e tudo fica bem quando nossos olhos não estão fixos nas circunstâncias, mas no Deus que é maior do que as circunstâncias.
Portanto, a forma como passamos por fases difíceis é pedindo ousadamente que Deus faça aquilo que somente Ele pode fazer. Esse tipo de lamento nos fortalece e encoraja a seguir em frente.
Escolha confiar
Finalmente, todo lamento deve conduzir a uma confiança maior em Deus. Se depois de lamentar, você não experimenta uma confiança maior no Senhor, você apenas reclamou, e não lamentou. Isso fica claro quando olhamos para os Salmos e encontramos palavras como “mas”, “porém”, “contudo”, etc.
“Até quando, SENHOR? Para sempre te esquecerás de mim?
Até quando esconderás de mim o teu rosto?
Até quando terei inquietações e tristeza no coração dia após dia?
Até quando o meu inimigo triunfará sobre mim? [...]
Eu, porém, confio em teu amor; o meu coração exulta em tua salvação.
Quero cantar ao SENHOR pelo bem que me tem feito.”
(Salmo 13 – Ênfase do autor)
Então, como deve se parecer um cristianismo genuíno em situações da vida real? Ao passarmos por sofrimento, nós permanecemos em oração, abrimos nosso coração diante de Deus, pedimos ousadamente que Ele aja de acordo com Seu caráter, e escolhemos confiar nEle, ainda que as situações continuem nos dizendo o contrário.
“O SENHOR é refúgio para os oprimidos, uma torre segura na hora da adversidade.
Os que conhecem o teu nome confiam em ti, pois tu, SENHOR,
jamais abandonas os que te buscam. Cantem louvores ao SENHOR,
que reina em Sião; proclamem entre as nações os seus feitos.
Aquele que pede contas do sangue derramado não esquece;
ele não ignora o clamor dos oprimidos.”
(Salmo 9.9–12)
Apesar de todo sofrimento, injustiça e dor, o lamento nos conduz a um caminho de adoração, onde escolhemos confiar. E ao escolhermos confiar, Deus nos dá forças para que continuemos confiando.
Se você ainda não se sente confortável para escrever ou fazer sua própria oração de lamento, experimente pegar um Salmo e reescrevê-lo com suas próprias palavras, considerando sua própria situação. Guardar o sofrimento para nós mesmos e tentar resolvê-lo com nossas próprias forças é aprisionador e cansativo. Deus nos chama a uma vida leve (Mateus 11.28–30), colocando nossas ansiedades diante dEle porque Ele tem cuidado de nós (1 Pedro 5.6 e 7), para que, assim, experimentemos a paz que excede todo entendimento (Filipenses 4.6 e 7).
Para refletir
Como essa visão bíblica sobre o lamento te ajuda a lidar com situações de sofrimento?
De que maneira textos como os Salmos modelam orações sinceras e humildes de lamento? Qual a importância de sabermos conversar — com outros e com Deus — sobre o sofrimento?
Editorial de Gustavo Santos
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