Uma fechada no trânsito, ou uma entrada sem usar a seta, um filho que não entende algo, mesmo quando repetimos três vezes a mesma coisa, uma dor de cabeça que não vai embora, coisas assim são suficientes para nos fazer perder a paciência. Nós não gostamos da ideia de algo acontecendo fora dos nossos planos; não temos paciência para lidar com mudanças e imprevistos. Ao mesmo tempo, gostamos e esperamos que os outros reajam pacientemente aos nossos erros.
Nesse sentido, e diferentemente dos outros atributos vistos até agora (Imutabilidade, Onipresença, Onipotência/Soberania, Simplicidade, Onisciência e Eternidade), que são classificados como Incomunicáveis pelo fato de não conseguirmos replicá-los, a Paciência é um dos atributos Comunicáveis de Deus — ou seja, é uma atitude que Deus espera que Seus filhos desenvolvam. Inclusive, é uma das características do fruto do Espírito:
“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.”
(Gálatas 5.22, 23 – ênfase do autor).
O que significa dizer que Deus é Paciente?
A paciência é um atributo que caminha junto com a misericórdia e a graça — atributos que serão desenvolvidos nos próximos editoriais. Eles aparecem juntos em algumas passagens, como Êxodo 34.6, Neemias 9.17, Salmo 86.15, Salmo 103.8, entre outras. Wayne Grudem une os três de uma forma bem interessante e prática: “A misericórdia de Deus significa a bondade de Deus para com aqueles que estão na miséria e angústia. A graça de Deus significa a bondade de Deus para com aqueles que merecem apenas punição. A paciência de Deus significa a bondade de Deus em reter a punição para aqueles que pecam por um período de tempo.”¹
Essa breve definição dada por Grudem deve nos chamar a atenção para algo. Embora a paciência de Deus não seja um atributo tão valorizado como a misericórdia ou a graça, é por causa dessa paciência que “ele suporta o opróbrio dos pecadores e adia suas punições; é a mais generosa vontade de Deus, pela qual ele suporta por muito tempo o pecado que ele odeia, poupando os pecadores [...] para levá-los ao arrependimento”.² Logo, não é simplesmente um atributo passivo, mas a atividade de Deus em segurar Sua ira e promover a redenção.
Também é importante não confundirmos paciência com fraqueza ou falta de justiça. Embora Deus esteja segurando Sua ira, a Bíblia deixa claro que o julgamento virá:
“O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o culpado.
O SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade,
as nuvens são a poeira dos seus pés.”
(Naum 1.3 – ênfase do autor)
A cruz de Cristo revela a Paciência de Deus
Fundamental para o entendimento da paciência de Deus é a realidade da morte de Cristo. Não haveria possibilidade de experimentarmos a paciência de Deus sem o sacrifício expiatório de Cristo em nosso favor. A maldade do homem continua sendo uma afronta a Deus. Ainda assim, Ele exerce paciência retardando e moderando Sua ira para que pessoas cheguem ao conhecimento de Cristo por meio da mensagem do Evangelho. Deus deseja a reconciliação com Suas criaturas e, portanto, não as destrói de uma vez, mas lhes dá espaço para o arrependimento, como o apóstolo Pedro diz:
“Mas há uma coisa, amados, que vocês não devem esquecer: que, para o Senhor,
um dia é como mil anos, e mil anos são como um dia.
O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada.
Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça,
mas que todos cheguem ao arrependimento.”
(2 Pedro 3.8, 9 – ênfase do autor)
O Evangelho nos educa a sermos pacientes
Se por um breve momento nós, seres humanos, tivéssemos a oportunidade de nos assentar ao lado do trono de Deus, de compreender plenamente sua Santidade e Justiça, e conseguíssemos olhar com clareza para as abominações que cometemos aqui na Terra, sem dúvida alguma nossa reação seria de destruir imediatamente e completamente a Criação.
Mas não é assim que Deus nos trata. Ele enviou seu único e perfeito Filho para morrer no lugar de pecadores impacientes, para que por meio de Cristo, fôssemos capazes de demonstrar aos outros a mesma paciência que Ele demonstrou — e continua demonstrando — a nós.
E não acaba aí. O Evangelho também nos educa a esperarmos ativamente e pacientemente pela volta de Cristo. Não cabe a nós tentar “apressar” o plano do Senhor. Ele está salvando os Seus. Portanto, nosso papel enquanto estamos aqui é tentar, o máximo que pudermos, espalhar a mensagem do Evangelho para que Deus alcance aqueles que Ele escolheu. Deus está agindo pacientemente, poupando pecadores para levá-los ao arrependimento.
Editorial de Gustavo Henrique dos Santos
¹ GRUDEM, Wayne, Systematic Theology: An Introduction to Bible Doctrine, Grand Rapids: Zondervan, 2004, p. 200 (ênfase do autor).
² LEIGH, Edward, Treatise of Divinity: Consisting of Three Bookes, London: E. Griffin for William Lee, 1647, p. 99 (ênfase do autor).
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